No coração da Família Dehoniana experimentamos um dom especial de Deus que nos une em comunhão, uma espiritualidade que nos anima para a missão de evangelizar. Padre Dehon experimentou esta graça e — como ele mesmo disse — nos deixou por herança este maravilhoso tesouro: o Coração de Jesus.
As palavras são muito pequenas para conter o significado de um carisma. Mas procuramos resumir aquilo que está em nossa Regra de Vida em apenas uma frase: “união à oblação reparadora de Cristo ao Pai em favor da humanidade” (Constituições 6 (a partir daqui: Cst)).
Este carisma define a identidade dehoniana […]. Todo carisma tem duas dimensões: o que somos e o que fazemos. Ou seja, a espiritualidade (ser) e o apostolado (fazer). A expressão oblação reparadora sintetiza o nosso carisma nestas duas dimensões: a mística que nos anima e a nossa ação evangelizadora.
1 – O que somos: “oblatos”
A oblação é o cerne da espiritualidade dehoniana. É a nossa mística. Basta lembrar que, na intenção original de Padre Dehon, o nome da Congregação deveria ser “Oblatos do Coração de Jesus”. As expressões “Ecce venio” (“Eis-me aqui, eu vim, ó Pai, para fazer a vossa vontade”, (Hb 10,7)) e “Ecce ancilla” (“Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra” (Lc 1,38)) ficaram consagradas no meio de nós como expressão da atitude oblativa de Jesus e de Maria. O “eis-me aqui” traduz perfeitamente o núcleo de nossa espiritualidade: a oblação!
Nossas constituições exprimem isto com clareza: “Para Padre Dehon, o Ecce venio define a atitude fundamental de nossa vida; faz de nossa obediência um ato de oblação, configura nossa existência com a de Cristo, para a redenção do mundo, para a glória do Pai” (Constituições 58). Portanto, o dehoniano deve ser reconhecido por atitudes que nascem de sua união à oblação de Cristo e que marcam todo o seu ser: disponibilidade, amor à Eucaristia, obediência, espírito de comunhão (sint unum), coragem de arriscar a vida pelo evangelho em favor dos irmãos (sacrifício-imolação), solidariedade e gratuidade. Enfim, o oblato tem um coração grande, capaz de acolher, amar e servir.
2 – O que fazemos: reparação
Se a oblação define o nosso “ser”, a reparação, por sua vez, é o eixo central do nosso “fazer”; é o critério de nossas opções apostólicas. Mas o que significa exatamente dizer que “fazemos reparação”? As constituições afirmam: “A reparação, nós a entendemos como sendo o acolhimento do Espírito (cf. 1Ts 4,8), uma resposta ao amor de Cristo por nós, comunhão ao seu amor pelo Pai e colaboração com sua obra redentora no mundo em que vivemos” (Constituições 23). Sobre este “acolhimento do Espírito” é bom lembrar o texto de Ezequiel em que encontramos a promessa de um “novo coração” unida à promessa de “um espírito novo”: “Dar-vos-ei um coração novo, porei no vosso íntimo um espírito novo, tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne” (Ez 36,26).
Fazemos reparação quando acolhemos o Espírito que renova os corações. Somos colaboradores da obra redentora de Cristo que quer fazer de cada homem e mulher uma “nova criatura”. O Mestre nos confiou este “ministério da reconciliação” (cf. 2 Cor 5,17-18). Somos “Profetas do amor e ministros da reconciliação” (Constituições 7). O documento Vida Consecrata, de João Paulo II, afirma: “A busca da beleza divina impele as pessoas consagradas a cuidarem da imagem divina deformada nos rostos de irmãos e irmãs” (VC 75).
Nas Constituições SCJ encontramos várias traduções desta mesma realidade que chamamos de “reparação”: remediar (5), regenerar (20), recriar (21), restaurar (23), libertar (23), reconciliar (25), curar (25).
Concluindo, o carisma confiado ao fundador dos Padres do Sagrado Coração de Jesus pode ser condensado em duas palavras: oblação e reparação. Estas duas ricas palavras se desdobram em um fecundo leque de significados. Essencialmente, a oblação distingue nossa espiritualidade; a reparação caracteriza nosso apostolado.
[youtube width=”800″ height=”450″]https://www.youtube.com/watch?v=TdqDXDqrHGs[/youtube]Fonte: PROVÍNCIA BRASIL SÃO PAULO. Dehonianos em Oração: o livro de oração da Família Dehoniana. 4ª ed. São Paulo, p. 14-19.
Adaptação e atualização: P. Emerson M. Ruiz, scj